sábado, 26 de novembro de 2016

                  CANÇÃO DA ESPERA



        Súbito, sobre as ancas da besta apocalíptica,  a morte despencou-se sobre ti, logo quando acalentavas plantar rosas no deserto.

Até hoje, ninguém achou rosa nenhuma. Claro, tu não plantastes rosas. Tu te plantaste a ti mesmo, amigo. És semente, adubo e serás rosa também! Seráa rosa-rota, rosa-bússola, rosa-ninho, rosa-canção de liberdade, rosa-amor, rosa-lua, rosa-caminho.

Cavalgando a sua besta apocalíptica, rebrilhando esporas e pederneiras, veio a morte e levou-te. Não sabia ela , que o mesmo sol, que a tarde morre ao poente, na aurora, nasce em ouro, novamente. Por isso, amigo, esta canção de espera, canção de fé, neste aguardar fremente, que a noite passe, e dos teus olhos mansos nasça o dia, outra vez, serena  e mansamente.



À Edson Luiz, assassinado pela ditadura militar, próximo ao Restaurante Estudantil Calabouço, RJ, 1968.

Nenhum comentário:

Postar um comentário