CANÇÃO DA ESPERA
Súbito,
sobre as ancas da besta apocalíptica, a morte
despencou-se sobre ti, logo quando acalentavas plantar rosas no deserto.
Até
hoje, ninguém achou rosa nenhuma. Claro, tu não plantastes rosas. Tu te
plantaste a ti mesmo, amigo. És semente, adubo e serás rosa também! Seráa rosa-rota, rosa-bússola, rosa-ninho, rosa-canção de liberdade, rosa-amor,
rosa-lua, rosa-caminho.
Cavalgando
a sua besta apocalíptica, rebrilhando esporas e pederneiras, veio a morte e
levou-te. Não sabia ela , que o mesmo sol, que a tarde morre ao poente, na
aurora, nasce em ouro, novamente. Por isso, amigo, esta canção de espera,
canção de fé, neste aguardar fremente, que a noite passe, e dos teus olhos mansos
nasça o dia, outra vez, serena e
mansamente.
À Edson Luiz, assassinado pela ditadura militar, próximo ao Restaurante
Estudantil Calabouço, RJ, 1968.